Não é nada fácil ser torcedor do FC Porto aqui no Brasil...

Numa época em que as transmissões da Premier League da Inglaterra são um show a parte em termos de tecnologia. Num momento que a Bundesliga Alemã resolve colocar cinco equipes na linha de frente da tabela e ainda ter o Calcio e a LFP da Espanha como concorrentes, como fazer para que o nosso FC Porto cresça no número de torcedores?

Saibam todos que sou brasileiro. Amo meu Brasil e não troco este país por quase nada. Costumo dizer que nasci no Brasil e que gostaria de morrer em Portugal, se possível numa aldeia do Norte. O estrangerismo e a invasão de expressões inglesas nos invadiram e estão em nosso cotidiano, para o todo e sempre.

Neste emaranhado todo, como arrebatarmos torcedores fora do perfil que é muito característico aqui, que é o torcedor com ascendência portuguesa, como o meu caso?

O clube tem feito bastante, eu penso que tem. Quando viajo por aqui, percebo que as Casas de Portugal tem algum símbolo do nosso dragão querido. Mas é pouco.

A televisão nos entope de jogos dos ingleses. Não acho o futebol da terra dos tablóides péssimo, pelo contrário. Gosto de acompanhar o Liverpool, por exemplo, em virtude dos acontecimentos de Heysel, em 1985, cuja minha tese é de que o estopim da tragédia em Bruxelas fora arquitetado em Roma, um ano antes, quando o Liverpool decidiu a Liga dos Campeões com a Roma. Mas isso é um outro assunto. A verticalização inglesa me impressiona.

Dias atrás fui a uma importante rede de lojas de artigos esportivos. Queria comprar uma camisola do FC Porto a um sobrinho que teimosamente, estava a torcer pelos benfas. Ele estava seduzido pela idéia de ter em suas costas, o nome do Lucho gravado e desfilar para todos a sua real e verdadeira face de torcedor. Qual não foi meu susto de que não achamos uma mísera camisola do Dragão num raio de 50 quilômetros. Pra casa retornamos, com ele a me indagar, é pra este tipo de time que o senhor, tio, quer que eu torça? Compra uma camisola do Manchester United pra mim, ou do Chelsea.

Não o culpo. Ele é fruto da massificação do sistema. É fruto do preconceito torpe e imbecil que impera por aqui com tudo que provenha de Portugal. Há uma ânsia do brasileiro em esquecer a sua história, em anular o seu passado numa vã tentativa inútil de se mostrar mais moderno. Quando dos confrontos contra os Red Devils, a mídia esportiva brasileira simplesmente acompanhou a nau rancorosa de Alex Ferguson, achando que o papelão feito pelas lagartixas iria se repetir. Poucos se deram ao respeito com o nosso Porto. Assim como meu sobrinho que dias depois do confronto em Old Trafford, tratou de rever seu ponto de vista e a aprender sobre o seu passado português, acoplado a uma miscigenação que só o português soube trabalhar, mesmo com erros.

Mas a luz no final do túnel, ela existe. O alcance ainda é pequeno, já que este tipo de público é mais afeito ao estilo Orkut, ao estilo Big Brother de querer aparecer e num sistema de valores totalmente falido, o supostamente rico, o supostamente na moda é o que conta para integrar-se a turma dos machões ou das patricinhas. Falo da blogosfera. Foi através dela que descobri vida inteligente a analisar o meu time de coração em Portugal - sim, tenho um time de coração aqui no Brasil também, no qual por hora, irei relutar em divulgá-lo. Através dos diversos blogs, redescobri a paixão de escrever, raciocinar e edificar idéias, conceitos e soluções.

O que só acaba por mostrar que somos de um reinado diferente. Um reinado que não é composto de dinheiro ou de quinze minutos de fama.